quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Viagem




Ficar finais de semanas inteiros com as crianças, sem ajuda nenhuma, era exaustivo demais no começo. Decidi, então, ir à praia com eles. Sozinha. Como já era “escolada”, fiz as comidas na sexta-feira e levei tudo pronto para não ter muito trabalho lá. Já deixei as malas no carro para não demorar demais para sair no sábado. Kit farmacinha: merthiolate, sundown, fenergan e dipirona. Tudo pronto de véspera.
Sábado de manhã, lá vamos nós! A estradinha para descer cheia de curvas. Com meia-hora de viagem, as crianças começaram a brigar. Eu não sabia se acalmava a briga ou se olhava a próxima curva. Uma mão no volante e outra no banco de trás, separando os dois.
Parei o carro.
Dei uma bela bronca. Quase voltei. A trégua durou uns 5 minutos e eles recomeçaram a briga. Depois de 15 minutos dentro do inferno de Dante, nenhuma idéia boa passava mais pela cabeça.
Parei o carro.
Chorei até me acalmar. Já nem ouvia mais o que se passava em volta. Nem o que diziam e nem o que faziam. Enfim, chorar não ia resolver nada. Resolvi continuar. Meia-hora depois, “mãe, cocô!”, “não dá para esperar, filho?”, “não, mamãe”... Ok.
Parei o carro.
Obviamente não tinha nenhum restaurante ou posto por perto, mas felizmente eu carregava sempre um rolo de papel higiênico no porta-luvas. Serviço pronto, plunkt plackt zoom, pode partir sem problema algum!!!
Minutos depois, foi a vez da minha filha. “Mãe, cocô”. Será que estou ouvindo direito? Ou são vozes na minha cabeça? Delírios? Pesadelos diurnos? Freud explica? “Mãããããããããe, cocô, mãe!!!”. Não, a vozinha era bem real e conhecida... Achei que era gozação. Dela ou dos astros!!! Essas coisas não aparecem escritas nos horóscopos diários...
Parei o carro.
Desta vez num restaurante. Eu segurava ela, a minha bolsa e ainda ficava de olho para o meu filho não sumir... Na hora em que fui dar a descarga, a chave caiu no vaso. E agora? Eu devia enfiar a mão na meleca e pegar a chave ou dava a descarga, chamava a Porto Seguro e pedia para me guinchar para o hospício mais próximo?
É... enfiei a mão na meleca!!! Acho que demorei maia hora lavando a mão e a chave... Bom, pelo menos eu sabia que cocô não ia rolar mais aquela manhã... Retomamos a viagem.
Minutos depois, toca o celular. Não vou atender. Não desistem. Tocam de novo.
Parei o carro.
Advinhem? Sabe aquele pessoal que não ligou no dia da futrica? Pois é, eram eles mesmos... meus amigos do telemarketing!!! Ai, Deus, será que ia demorar mais ou menos que uma hora para eu convencê-los de que eu não precisava de outra operadora de celular?
Plunkt plackt zoom... pode partir sem problema algum.... Boa viagem!!! Plunkt plackt zoom... pode partir sem problema algum... “Mãe, falta muito?”, “Mãe, tá chegando?”, “E agora, mãe?”...“Mãe, tô com fome”, “para falar a verdade, tô com muita fome!!!”.
Parei o carro.
Sabe aquelas mulheres que antes de ter filhos falam: “que horror, nunca vou deixar meus filhos comerem no carro”, “nunca vou dar salgadinhos para os meus filhos” e frase do gênero? Pois é, muito prazer, Verônica.
Descobri uma nova lei de Newton. Todos os paradigmas são vencidos em momentos de stress.
A viagem, que estava prevista para durar 2 horas, durou apenas 5!!! Ainda bem que, depois eles ficaram uns verdadeiros anjinhos durante todo o final de semana. Não choveu em Ubachuva e conseguimos curtir muito a praia... Isso me animou de repetir a experiência várias outras vezes. Mas, é claro, sem repetir os mesmos erros.
Hoje só viajo depois das 21h, quando as crianças já estão prontas para o encontro com os anjinhos da guarda.
E as pessoas que não sabem dessa história, acham que eu sou louca por dirigir à noite... Loucura é viajar de dia!!!

3 comentários:

  1. Oi Verônica,
    Adorei o post...dei muita risada imaginando cada situação. Parabéns pelo blog! Sou leitora assídua e sempre fico na expectativa da próxima história.
    Um beijo
    Michele

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  2. Veronica,
    Adorei o post...dei muita risada imaginando cada situação. Parabéns pelo blog! Sou leitora assídua e sempre fico na expectativa da próxima história.
    Um beijo
    Michele

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  3. Veronica,
    Adorei a frase:
    "Todos os paradigmas são vencidos em momentos de stress."
    Essa é uma realidade a qual me deparo todos os dias.
    Clair

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