quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Criança doente no meio da madrugada


Acho que a separação tem várias fases ruins. A primeira fase ruim é logo no começo, quando você sente a falta do ex, enxerga as coisas dele em todos os cantos da casa, continua fazendo as comidas prediletas dele, a rotina fica toda fora de controle, a cama fica vazia à noite e milhões de outras coisas.
Nessa fase, tudo o que acontece é potencializado. Todo o drama fica maior do que realmente é. O peso da responsabilidade parece decuplicar. Por isso, muitas das minhas histórias se referem a esse período, onde a cada dia a gente acha que tudo o que tem para acontecer de ruim já aconteceu... E a cada dia a gente descobre que isso invariavelmente não é verdade.
Pois bem, menos de um mês depois da separação, minha filha ficou doente. Começou com uma tossinha e uma febrinha no final da tarde. Dei um remedinho, um banhinho, uma comidinha, brincamos um pouco e fiz todo aquele ritual de colocar as crianças para dormir.
Era quase meia-noite quando a minha filha resolve ter um acesso de tosse, desses de ficar mais de hora tossindo. Dei água, dei mel, coloquei ela sentada na cama, tirei ela do quarto, fiquei com ela sentada no meu colo no sofá, fiz tudo o que eu me lembrava e aquela tosse seca não parava de jeito nenhum.
Duas horas da manhã eu não sabia mais o que fazer... E agora, vou para o hospital? O que eu faço com o meu filho de dois anos? Deixo-o sozinho trancado em casa e vou? Tiro-o do sono profundo da madrugada e levo junto para o pronto-socorro? Ligo para a minha vizinha e peço para ela dormir na minha casa? Ligo para os meus pais, que, além de já ter uma certa idade, ainda estão a quilômetros de distância?
Resolvi não fazer nada disso e liguei para o Tatá. Ele veio. Quando ele chegou, pegou a minha filha, ficou com ela no colo um pouco e deitou com ela na sala. Pouco tempo depois, já exausta, ela dormiu de novo e ele passou o resto da noite lá.
No dia seguinte, tive que ouvir que eu era uma mãe incompetente. E, pior, que eu era mentirosa e que eu estava usando as crianças como pretexto com a intenção de deixá-lo com sentimento de culpa...
Então, como eu disse no começo, a situação já estava péssima. A minha filha ficar doente, tornou-a ainda pior. E, depois de tudo, ainda ouvir o que eu ouvi, foi totalmente destrutivo.
Resolvi que nunca mais iria ligar para o Tatá em toda a minha vida para pedir ajuda, nem que para isso eu tivesse que sacrificar quem quer que fosse. Essas situações nos tornam mais duras e amarguradas.
No dia seguinte, como ela continuava com tosse e com febre, levei ao pronto-socorro e a médica passou um antibiótico que o Tatá nem chegou a ver porque aquele não era o final de semana dele.
E, nesse ponto, apenas um parênteses sobre os pediatras, principalmente os que não nos conhecem. Às vezes, tratam as mães como se fossem loucas desesperadas. Isso só acontece porque eles realmente não têm a menor idéia de tudo o que aconteceu até chegarmos ali...
Enfim, só depois de quase dois anos de separados é que eu e Tatá tivemos uma conversa decente sobre aquele acontecimento, onde finalmente as coisas ficaram esclarecidas.
E, não sei se feliz ou infelizmente, hoje sou muito mais forte e capaz de resolver tudo sozinha. Ontem fui para o hospital com ela de novo. Voltei quase uma da manhã, com ela medicada.
Essa situação é, de todas, a que mais me deixa fragilizada. Depois que tudo passa, sinto falta de alguém que possa simplesmente me abraçar.

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