quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Telefones


Logo nas primeiras semanas após a separação, tinha uma coisa que me deixava louca... o telefone. Às vezes eu estava toda concentrada escrevendo a minha dissertação, tocava o telefone. “Por favor, gostaria de falar com o sr. Tatá ?”. Eu respondia: “Sr. Tatá não mora mais aqui”. Depois que eu desligava, eu chorava e chorava.
Até que teve um dia em que ligou a trigésima quinta moça de telemarketing procurando por ele. Quando eu disse que o Tatá não morava mais lá, ela me perguntou o meu nome e queria me vender uma assinatura de jornal. Eu disse que não estava interessada e blá, blá, blá, mas como sempre, eles são tão treinados que nenhum dos nossos argumentos funciona. Então comecei a contar a história da minha vida para ela...
“Olha, Fulana, eu me separei e a pensão que eu recebo não dá nem para pagar direito a escola das crianças”... e por aí foi... ela tentava voltar para o assunto, mas eu não deixava. Continuava a falar... “não, olha, deixa eu te contar mais isso e isso”... Ela tentava me convencer dos benefícios de ser uma pessoa bem informada... E eu dizia que tudo me lembrava o Tatá... “ai, o Tatá iria adorar o caderno de esportes” e começava a chorar... Então ela me ofereceu um período de assinatura grátis por 20 dias... E eu falei da viagem “grátis” que ganhamos numa promoção uma vez... Aí ela falava das possíveis formas de pagamento... E eu falava que o Tatá adorava chuchu... Parecia conversa de louco. Acho que depois de uma meia hora ela se convenceu de que eu precisava mais de um psiquiatra e do que de uma assinatura de jornal... Desliguei o telefone de terapia feita!!!
Achei que tinha resolvido dois problemas... o primeiro era o meu desabafo e o segundo era me livrar da tal fulana... Mas nem uma coisa nem outra era verdade. O primeiro porque nunca os desabafos eram suficientes para diminuir a minha dor (a Rosa que o diga!!!)... e o segundo porque...Poucos dias depois, o povo do tal jornal resolve ligar de novo, agora já procurando por mim... Mas daquela vez eu estava ocupada o suficiente para não querer repetir a conversa. E também já sabia que os argumentos clássicos (já assino outro jornal, não gosto de sujar as mãos, já tenho acesso pela internet e etc) não funcionariam. Então curta e grossa, eu disse: “EU NÃO SEI LER, obrigada”. E desliguei o telefone.

Nenhum comentário:

Postar um comentário