sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Trocando o gás


Algumas coisas parecem incríveis... o gás de cozinha dura em média uns 3 meses na minha casa. Mas, é lógico, tinha que acabar JUSTO na primeira semana após a separação. Ainda com o rosto inchado de tanto chorar, mas com as boquinhas famintas dos meus filhos para alimentar, estava eu na cozinha preparando o almoço quando o gás acabou. Tentei girar aquela borboleta que liga o botijão e nada de conseguir. É lógico que eu nem tinha certeza do lado certo para girar e eu não sabia se eu estava efetivamente fazendo força para abrir ou fechar a tal da borboleta. Meus dedos já estavam doendo, então tentei com um pano de prato. E nada. Tentava para um lado e para o outro. Nem apenas um milímetro de movimento. #$%!&!#!!!
Bem, o jeito era pensar em outra alternativa... almoçar fora. Não tinha a menor condição. Eu estava um trapo. A bermuda mais velha, manchada, feia e larga que eu tinha... verde. Combinando perfeitamente com a blusa laranja desbotada e suja, com o meu nariz inchado e vermelho de tanto chorar e com o meu cabelo preso no alto num tufo de assustar até fantasma! Mas essa figura refletia perfeitamente meu estado de humor... Não! Me arrumar e sair estava fora de cogitação!!! Imagine ainda ter que arrumar as crianças!!! E de ser parada pelos conhecidos para responder às perguntas sem fim ("Nossa!!! vocês formavam um casal tão bonito!!!") ... Nem pensar...
O jeito era fazer outra comida... mas a minha falta de vontade de sair nesta semana também tinha incluído não ir ao mercado... Achei que misturar atum e ervilha não ia ser suficiente para as criancinhas.
Então eu sentei.
E esperei.
Esperei.
Esperei.
Ai, ai...
Nada aconteceu...
O jeito era apelar. Saí no portão, daquele jeito mesmo. Minha aparência lembrava um filme de terror batido no liquidificador.
Passou um homem puxando um carrinho de material para reciclagem. Acho que ficou com pena de mim. Fez apenas um aceno discreto com a cabeça, como quem cumprimenta uma viúva na beira do túmulo. E se foi.
Um dos meus vizinhos (aquele que antes me olhava com cara de lobo) apareceu. Pude até ler os pensamentos dele: "de onde saiu esse bagulho?". Mas, como eu não tinha opção, tinha que ser ele mesmo! Como toda a cara-de-tomate-fervido do mundo, pedi para ele trocar o gás para mim. Só vi de relance a mulher dele torcendo o nariz quando o viu entrar na minha casa...
Torce para cá, torce para lá e nada da borboleta se mexer. Mentalmente eu xingava o homem do gás que tinha colocado o último botijão no lugar. E também meu ex-marido que não estava lá para fazer força... Meu vizinho interrompeu meus devaneios para pedir um martelo, já olhando para a minha cara como se fosse perguntar se eu tinha alguma idéia de onde meu ex-marido poderia colocar tal coisa. Mas, não demorou muito... uns 5 minutos para eu achar o tal do martelo. TUM. TUM. Duas marteladinhas ridículas e pronto! A borboleta girava docentemente!!! Parecia até que ia voar!!!
A essa altura, meu humor estava para lá de azedo e meu sorriso que antes estava amarelo, ficou cor-de-jaca! Rezei para que a um tremor de terra fulminante se abatesse sobre o planeta e acabasse com todas as formas de vida!!! Enquanto isso, agradecia com aquela cara de idiota e nem saí no portão para não ter que olhar para o lobo e para a mulher panela-de-pressão.
E, é claro que, no final, acabei até perdendo a fome!

Nenhum comentário:

Postar um comentário