sábado, 24 de janeiro de 2009

Escorpião 1



No bairro onde eu morava tinha muitos terrenos vagos e de vez em quando aparecia um escorpião. Na minha casa nunca tinha parecido um... É claro que o bichinho tinha que aparecer justamente depois que o Tatá foi embora.

Era sábado de manhã, acho que por volta das 07:30. Eu ia colocar o lixo na rua. Levantei o saco que estava apoiado sobre uma caixa de papelão e lá estava ele! Eu quase podia ver os dentes dele (do escorpião, claro!) rindo da minha cara perplexa e patética! Automaticamente fiquei na ponta dos pés, que estavam, obviamente, vulneravelmente metidos num chinelo! E agora? Não dava para entara em casa e esperar o bicho achar outro esconderijo. Ele poderia atacar minhas criancinhas... Eu também não podia pegar o chinelo com a mão e matá-lo, pois esses poucos centímetros de distância entre a pinça e os meus extremamente úteis dedos era muito próxima...

Ficamos então nos encarando um pouco. Eu e o escorpião. E como o Tatá era do signo de escorpião, meus sentimentos se dividiram naquele momento. Parecia que o bicho era um espião checando o que eu estava fazendo na sua ausência. Neste período ainda tão recente da minha separação, matar cruelmente um escorpião com resquintes de violência seria uma vingancinha bem doce... Por outro lado, o mede de ele vencer a luta, subir pelo meu braço e picar meu pescoço era enorme!!! E enquanto eu pensava tudo isso, ele ficava ali me olhando...

Decidi arrastar a caixa de papelão até o portão, devagar para ele não sair correndo. Apenas o polegar e o indicador segurando a beirinha da caixa... A longa viagem, de uns 25 metros mais ou menos, durou três minutos, doze segundos, vinte e cinco milésimos e uma eternidade e meia. Enfim, deixei a caixa no meio da rua... mas o problema estava apenas parcialmente resolvido.

Então, advinhem? Passou o homem da carrocinha de sucada... Felizmente não era o mesmo, senão ele provavelmente sairia correndo e largaria a carrocinha ali mesmo. Era outro. Como uma linda, maravilhosa, super-hiper-ultra-magnífica bota preta de borracha!!!

Expliquei a situação. Ele olhou a caixa e nada de escorpião!!! O homem olhava para mim com cara de incredulidade. Eu não podia acreditar, afinal eu já estava há 15 minutos sem piscar nem uma única vez!!! Achei que ele poderia estar escondiso sob as abas da caixa...

Quem passou pela rua naquela hora (ainda bem que eram poucos, afinal quem acorda e já está na rua num sábado às 07:45?), viu um homem da carrocinha pisoteando enfaticamente uma pobre caixa de papelão e uma dona com cara-de-quem-acordou-agora-e-levou-um-susto olahdno a cena com os olhos arregalados.

Depois da operação pisoteamento, o homem virou a caixa... e para a graça do resto da pouca sanidade que me restava, efetivamente encontrou os restos mortais do bicho... Larguei o Tatá, ops, quer dizer, o escorpião, no terreno ao lado, morto sozinho e abandonado!!!

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